sábado, 18 de junho de 2016

Loucura ou lucidez incompreendida?

Em seus 60 anos de atividades mediúnicas, muitos deles vividos ao lado do inesquecível médium Chico Xavier, seu Arnaldo Rocha testemunhou os mais diversos tipos de transes mediúnicos. De acordo com ele, a lição que ficou no seu coração foi a de que “(…) sabemos muito pouco dos mecanismos de interação entre as dimensões espirituais”. Dentre a enorme gama de manifestações presenciadas nas quais Chico assumiu o papel de medianeiro entre as duas realidades da vida, relata Arnaldo Rocha, como se encontra registrado na obra “Diálogos e Recordações”, um caso interessante que diz respeito a uma existência anterior do médium vivida na Espanha do século XVI.
Nesse dia, antes das atividades de atendimento propriamente ditas, Arnaldo notou que Chico estava profundamente melancólico, o que o fez imaginar que poderia ser algum fenômeno relacionado com a reunião que aconteceria mais tarde. Durante os trabalhos de atendimento aos desencarnados, manifesta-se então o espírito de uma irmã de caridade que se encontrava em estado de profunda depressão. Por ela não ter se deixado levar pelos interesses sexuais de um sacerdote, este a emparedou para evitar o despontar de qualquer escândalo indesejado. Presa psiquicamente ao ambiente, encontrava-se a entidade em profundo desespero a lancinar-lhe a alma.
Ao término da reunião, após o atendimento à pobre irmã, o espírito José Xavier se manifestou para explicar o motivo do abatimento do médium horas antes do transe. Palavras do amigo do mais além: “Chico, em existência pregressa, tendo sido Joanna de Castela e Aragão, no século XVI, conheceu de perto o sofrimento da companheira. Esse é o motivo do profundo abatimento de que foi acometido”. Destaca Arnaldo que não foi unicamente a ligação psíquica que deixou o Chico em tal estado de alma, mas as reminiscências do próprio médium vincularam-no sentimentalmente à entidade sofredora.
Consta nos anais da história que Joanna, filha da rainha Isabel I de Castela e do rei Fernando de Aragão, era identificada pela alcunha de “Joanna, a Louca”, pelo amor intenso que devotara a seu marido e por não aceitar sua a morte, recusando-se a enterrar-lhe o corpo. De acordo com Arnaldo, todavia, Joanna era uma mulher que lutava pelo seu amor, acima de quaisquer convenções, fossem políticas ou religiosas, e tinha uma sensibilidade mediúnica muito acurada. Além do mais, o fato de ver o espírito do marido reforçava em seu coração a não aceitação da morte do seu amado.
Esses esclarecimentos de Arnaldo Rocha nos levam realmente a questionar quanto às conclusões históricas alcançadas desconsiderando-se o elemento espiritual da existência. Uma aparente loucura em verdade revelava uma lucidez de sentimento e de percepção extra-sensorial que a própria Joanna não compreendia, e muito menos os historiadores que denominaram-na “a Louca”. Tamanha era sua lucidez que o sofrimento vivido pela irmã de caridade ficou registrado no seu coração de maneira tão profunda que, três séculos depois, em uma manifestação mediúnica que teve lugar numa reunião de atendimento a entidades em processos de dor e sofrimento, em nome do Cristo, novamente fez emergir do seu coração evangelizado os sentimentos de solidariedade e de pesar pelo sofrimento da pobre alma amiga.
Joanna foi estigmatizada como “a Louca“, e Chico Xavier também foi vítima da incompreensão de muitos, que o consideravam um perturbado mental que acreditava ter o poder de se comunicar com os mortos. O questionamento novo que surge então é o seguinte: diante da realidade espiritual da vida, quem são os verdadeiros loucos, os que já despertaram para a nova realidade, ou os que ainda dormem imersos na carne e no torvelinho de paixões que ainda azorragam os corações humanos distantes do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo? Que o Divino Mestre se amerceie de nossa pequenez e nos presenteie com mais “loucos” capazes de nos despertar da nossa incoerente “lucidez”…
Tales Argolo Jesus
Mensagem carinhosamente escrita para este blog pelo amigo Tales Argolo Jesus do Centro Espírita Irmãos em Cristo. Belo Horizonte, MG.

Nenhum comentário:

Postar um comentário