domingo, 1 de janeiro de 2017


Temer se diz "cansado de apanhar"


Michel Temer teria confidenciado para pessoas próximas que está "cansado de apanhar injustamente"
e estaria fazendo anotações diárias para um livro, "tentando desmistificar a tão falada solidão
do poder"; em 2017, o governo do peemedebista deverá continuar enfrentando dificuldades com o
cenário econômico e também com a Operação Lava Jato;  Das 77 delações de executivos e ex-diretores
da Odebrecht, somente quatro tiveram tiveram o conteúdo divulgado, com diversas citações à cúpula do governo do Temer. Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal, deve homologar os depoimentos em março, trazendo mais turbulências para o Palácio do Planalto



Jornal GGN - Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, o presidente Michel Temer teria confidenciado
para pessoas próximas que está "cansado de apanhar injustamente". Segundo reportagem assinada
por Vera Rosa, Temer estaria fazendo anotações diárias para um livro, "tentando desmistificar a
tão falada solidão do poder".

Em 2017, o governo do peemedebista deverá continuar enfrentando dificuldades com o cenário
econômico e também com a Operação Lava Jato. Das 77 delações de executivos e ex-diretores da
Odebrecht, somente quatro tiveram tiveram o conteúdo divulgado, com diversas citações à cúpula
o governo do Temer. Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal, deve homologar os depoimentos em
março, trazendo mais turbulências para o Palácio do Planalto.



A luta de Temer entre a pinguela e a tormenta


Vera Rosa

Presidente faz anotações diárias e confessa a amigo: 'estou cansado de apanhar injustamente'
Com uma crise atrás da outra batendo à porta do Palácio do Planalto, o presidente Michel Temer
confidenciou, nos últimos dias, que não esperava enfrentar tantos percalços no caminho. "Estou
cansado de apanhar injustamente", desabafou ele, em recente conversa com um auxiliar. O receio
do PMDB, agora, é de que a "tempestade perfeita", composta por problemas tanto na política como
na economia, ponha em risco o mandato de Temer.

A Operação Lava Jato abalou a República, deixou o governo na corda bamba e trouxe uma penca de
incertezas para 2017, já que, das 77 delações de executivos e ex-diretores da Odebrecht, apenas
quatro tiveram o conteúdo divulgado. Até agora, as investigações arrastaram a cúpula do governo
e do PMDB para o centro da conflagração política.

No Congresso, a oposição calcula que, quando o ministro do Supremo Tribunal Federal Teori
Zavascki homologar os depoimentos, por volta de março, o governo enfrentará mais sobressaltos.

Em público, Temer tenta contornar as dificuldades com palavras, muitas vezes entremeadas por
mesóclises. Dono de um vocabulário rebuscado, ele disse que apreciaria não ser "vergastado"
(chicoteado) nas redes sociais, mas até hoje não conseguiu reverter o desgaste e vê sua
impopularidade aumentar dia após dia. "Dizem que eu ando abatido, mas isso não é verdade. Os
desafios me estimulam. Não sou homem de cair de joelhos", afirmou o presidente a um amigo.

Temer começou a escrever um livro. Não é, no entanto, o romance inspirado em sua vida, como já
anunciou. Desde o impeachment de Dilma Rousseff, ele tem anotado passagens sobre os seus dias
no Planalto, tentando desmistificar a tão falada solidão do poder. Escreve tudo a mão. Até
quarta-feira, contou 280 audiências. Supersticioso, não ocupa a cadeira em que Dilma costumava
despachar, no gabinete do 3.º andar. Senta-se numa poltrona de couro preto.

Antes da enxurrada de denúncias, das ameaças veladas do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha
(PMDB-RJ) e da deterioração do cenário econômico, Temer revisitou as memórias de Getúlio Vargas,
que comandou o País em duas ocasiões (de 1930 a 1945 e de 1951 a 1954).

"Na política, o adversário nunca é tão adversário que não possa se tornar aliado depois. E o
aliado nunca é tão aliado que não possa vir a ser seu adversário amanhã", disse ele, na
madrugada de 11 de outubro, citando uma frase de Getúlio. Fez o comentário ao assistir pela TV,
no Planalto, à primeira votação na Câmara da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que limita
os gastos públicos.

De lá para cá, porém, enfrentou o que define como roteiro "de fel" e a frase sobre a relação
entre adversários e aliados ganhou contornos de batalha pela sobrevivência.

Travessia. Sete meses depois de assumir o governo – tratado como "uma pinguela" pelo
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso –, Temer tem incontáveis desafios para completar a travessia
até 2018. Um deles está no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que nos próximos meses decidirá se
houve abuso do poder político e econômico, em 2014, na campanha da chapa liderada por Dilma, da
qual ele era candidato a vice. A ação foi movida pelo PSDB do senador Aécio Neves (MG), antes
adversário e hoje aliado.

O sinal passou do amarelo ao vermelho com as delações da Odebrecht e preocupa o impacto que elas
possam ter no andamento do processo. Se Temer for afastado, a escolha do sucessor será feita
pela Câmara, de forma indireta. Uma nova eleição somente ocorreria se a saída fosse até 31 de
 dezembro.

Um ministro do TSE disse ao Estado que ninguém no tribunal quer "incendiar o País", mas ressalvou
que, se o governo ficar insustentável, a cassação da chapa pode ser uma saída.

Temer repudia as acusações dos delatores. Costuma dizer que elas "não colam" e pede aspas nessa
expressão, de tão formal que é. Diz que todas as doações da Odebrecht ao PMDB, partido do qual era
presidente, foram declaradas ao TSE.

Corredor da morte. Desde maio, o presidente já perdeu seis ministros, além do amigo José Yunes,
que era seu assessor especial. Foram tantas as quedas em tão pouco tempo que já se fala em um
"corredor da morte" pós-escândalos no governo.

Temer admite ter errado ao permitir que o então chefe da Secretaria de Governo, Geddel Vieira
Lima, permanecesse "sangrando" no Planalto por uma semana. Avalia que a crise provocada após o
então titular da Cultura Marcelo Calero dizer que Geddel o pressionou para atender a seus
interesses imobiliários só chegou a seu gabinete porque o ministro resistia a sair.

Foi por isso que, quando o ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht Cláudio Melo Filho
citou uma entrega de dinheiro no escritório de Yunes, em 2014, o governo agiu rápido e a carta
de demissão não tardou. Agora, não se sabe quem resistirá na reforma ministerial, prevista para
fevereiro. A possibilidade de Temer dar ao grupo de Aécio a articulação política causa
divergências e tem sido interpretada, nos bastidores, como um gesto que fortalecerá essa ala
tucana para a eleição de 2018.

Na tentativa de desviar o foco da agenda negativa, a equipe econômica lançou pacote de medidas
para diminuir o desemprego – que atinge 12,1 milhões de pessoas – e melhorar o ambiente de
negócios. Sob ameaça de empresários estrangeiros que cogitam desistir de investimentos no Brasil, Temer adotou uma operação de emergência para reduzir os danos da Lava Jato.

"O maior desafio do presidente Temer é a economia. Eu não maximizo tanto as turbulências
políticas", disse ao Estado o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Um dos três
pré-candidatos do PSDB à Presidência, Alckmin afirmou que o governo "não deve demorar muito" a
promover uma queda consistente dos juros, sob pena de a situação se agravar ainda mais, com o
aumento do desemprego.

"É preciso confiança para investir e o governo tem em mãos esse instrumento poderoso, que é a
possibilidade de diminuir a taxa de juros. Se fosse eu, centraria muito nisso", insistiu o
governador. Também citado pela Odebrecht como beneficiário de caixa 2, Alckmin declarou que qualquer
conclusão com base em depoimentos não homologados é "prematura".

Impasses. Diante de um cenário nublado por impasses, com delações que podem envolver 200
políticos – entre ministros, governadores, senadores e deputados –, o Planalto já prevê nova
leva de crises em 2017. Para evitar que um pedido de impeachment vá adiante contra Temer no
Congresso, o Planalto quer a reeleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ) no comando da Câmara, mas não
pode escancarar sua estratégia.

O problema é que, além de pendências jurídicas sobre a candidatura de Maia, o Centrão – grupo
que reúne 13 partidos – tem pelo menos outros dois concorrentes. Na prática, Temer depende
desse bloco para aprovar projetos importantes, como a reforma da Previdência.

"Nós pedimos a renúncia dele por absoluta falta de condições de administrar o País. Esse governo
derreteu, acabou", provocou o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE). Os petistas vão
insistir na mobilização por novas eleições diretas, embora seja necessário mudar a Constituição
para que isso aconteça. "Esta será nossa principal bandeira em 2017. A política se sobrepõe a
questões de ordem legal", emendou Costa.

Para o senador Cristovam Buarque (PPS-DF), Temer atravessará um período de "sangue, suor e
lágrimas" e terá de explicar à sociedade, "com mais ênfase", as consequências de não se fazer as
reformas propostas. "Ele precisa ser mais líder e menos pacificador", resumiu Cristovam.
"Tirar Henrique Meirelles da Fazenda seria um desastre, mas é urgente desamarrar a economia."

Pouco antes do anúncio do pacote econômico, no dia 15, Temer ouviu do deputado Mauro Pereira
(PMDB-RS) que era necessário ele recorrer a "uns cinco anjos da guarda" para enfrentar 2017.
"Cinco? Acho que vou precisar de muito mais. Nem sei de quantos", respondeu o presidente.

O estilo cordial de Temer sempre chamou a atenção. Certa vez, ao visitar o então governador de
Pernambuco, Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), ele foi logo cumprimentando os seis "convidados" altos
sentados à mesa. "Mas Michel, esses são os bonecos de Olinda", interrompeu Jarbas. Foi uma
gargalhada só.

Fonte: Brasil 247

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