Boulos e o guarda da esquina do AI-5
-- Não tenho nenhum receio em relação ao presidente. Tenho medo do guarda da esquina.
Trinta e nove anos depois de um período em que o país enfrentou uma sequencia de barbaridades que não é preciso recordar, a profecia voltou a se materializar na manhã de hoje. Vestindo uniformes cinzentos da PM paulista, um guarda da esquina de 2017 -- o termo não tem caráter ofensivo, apenas se refere a um grau na hierarquia das forças responsáveis pela segurança pública -- deu ordem de prisão para Guilherme Boulos, líder do MTST, que tentava negociar a retirada de 700 famílias que ocupavam um terreno em São Matheus, na periferia de São Paulo. Então está combinado.
Num país onde a moradia popular é uma tragédia, agravada pela decisão do governo Michel Temer em esvaziar o Minha Casa, Minha Vida, a única providência que ocorre às autoridades do governo Geraldo Alckmin, o estado com o maior PIB do país, é prender uma liderança que procurava uma saída negociada para o futuro de alguns milhares de pessoas sem casa e sem amparo. "Cometem a violência de despejar 700 famílias e eu é que sou preso por incitar a violência," reagiu Boulos.
A criminalização de movimentos populares é uma das primeiras estratégias para a construção de toda ditadura. Rebaixando o debate de assuntos obviamente políticos, procura-se retirar a legitimidade de de quem está submetido a uma situação de absoluta destituição de direitos, sem outro argumento real além da mobilização. A saída oferecida é se submeter ou se submeter.
No país de hoje, a prisão de Boulos é uma forma de intimidar e demonstrar força, semelhante a invasão exibicionisda esquina do AI-5 tinha função de perseguir -- com métodos que chegaram à tortura e exec
Nenhum comentário:
Postar um comentário